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Desafios técnicos ao montar uma TV para ônibus

Entenda as particularidades e os entraves para iniciar um projeto de TV para ônibus
Escrito por Eric Vazzoler

Como falamos anteriormente, a venda de mídia em ônibus com TV embarcada pode ser uma grande oportunidade de negócios para empresas de mídia e também para as próprias companhias de transporte urbano. No entanto, esta aplicação também apresenta uma série de desafios técnicos. Por isso, vamos listar alguns pontos que requerem atenção especial na hora de implantar uma TV para ônibus.

Principais desafios técnicos para implantação de uma TV para ônibus

Alimentação

Equipamentos comuns, como PCs e Android Players, geralmente são feitos para uso indoor, conectados a uma tomada na parede com tensão elétrica 110V ou 220V. É importante utilizar equipamentos que aceitem alimentação diretamente da bateria do ônibus, que no caso é de 24V. Isto evita a necessidade de uso de inversores (24V para 110V ou 220V), reduzindo o custo e a ocorrência de problemas.

Instabilidade da alimentação

Se a distribuição de energia elétrica urbana já apresenta problemas de variações elétricas, picos de energia causados por raios e interrupções no fornecimento, imagine a distribuição de energia dentro de um ônibus. A alimentação de 24V disponível dentro dos ônibus sofre com várias interferências, como:

  • Picos de energia causados pelo sistema de ignição. Muitos equipamentos que não foram projetados para uso automotivo simplesmente queimam no momento da partida do motor
  • Cargas eletrostáticas acumuladas devido à fricção da lataria do ônibus com a atmosfera durante seu deslocamento
  • Constante realização de ligações diretas, a chamada “chupeta”, pelos funcionários de empresas de ônibus. Eles conectam a alimentação de um ônibus no outro para recarregar alguma bateria que tenha se descarregado, gerando uma infinidade de ruídos elétricos que pode danificar equipamentos não projetados para uso automotivo
  • Outras tensões transientes dentro do circuito de alimentação do ônibus, inerente ao seu funcionamento, como interferências causada pelo alternador, variações de carga e variações causadas pelo ligamento ou desligamento de chaves (switch bounce)
  • Desconexão entre a bateria do ônibus e o alternador, falha conhecida como “load dump”, podendo causar picos de tensão muito nocivas ao sistema elétrico do ônibus
  • Conexão invertida entre os terminais da bateria do ônibus com algum dispositivo. Esta inversão de polaridade causará danos irreversíveis aos equipamentos ligados à bateria do ônibus que não possuem um sistema de proteção

Procure sempre utilizar equipamentos desenvolvidos para uso automotivo, que contenham filtros de proteção na fonte de alimentação e outras proteções extras para a parte eletrônica interna. São estes dispositivos que evitarão os problemas citados acima, tanto nos players, quanto nas telas.

Consumo da bateria

Um ônibus carrega diversos equipamentos eletrônicos ligados ao sistema de alimentação do ônibus. Enquanto o ônibus está ligado, a energia é fornecida por um gerador ligado ao motor do veículo e supre toda a necessidade. Porém, quando o ônibus é desligado, todos estes equipamentos são alimentados pela bateria, que possui capacidade limitada. Geralmente, desliga-se todos os equipamentos eletrônicos para que eles não descarreguem a bateria do ônibus enquanto ele está desligado. No entanto, em um projeto de TV para ônibus, é importante que o player (e não a tela) fique ligado enquanto o veículo está no estacionamento. É neste momento do dia em que grande parte dos players baixam o conteúdo que será exibido no dia seguinte.

Portanto, é importante que se busque um aparelho que consuma pouca energia, já que um player com alto consumo pode descarregar a bateria do ônibus durante estas horas em que fica ligado com o carro desligado. O ideal é que este tipo de equipamento consuma no máximo 10 Watts. É possível encontrar no mercado brasileiro players desenvolvidos especialmente para TV para ônibus que consomem entre 5 e 7 Watts.

Distribuição do sinal de vídeo

Em geral, projetos de TV para ônibus contam com duas a quatro telas ao longo do carro. Não se justifica, no entanto, utilizar um player para cada tela. O ideal é que apenas um player possa distribuir o sinal para todas as telas de um mesmo ônibus através de divisores de vídeo, ou splitters.

Como esta distribuição exige o uso de cabos ao longo do ônibus, é importante que seja utilizado sinal digital de vídeo, como o padrão HDMI, tanto no player quanto nas telas. Isto se deve ao fato de que sinais de vídeo analógicos, como o antigo padrão VGA, são mais suscetíveis a interferências elétricas, que atrapalham a perfeita exibição dos conteúdos nas telas.

Em relação aos divisores de vídeo, é aconselhável utilizar aqueles que possuem entrada de alimentação própria (alimentação ativa) e não os que são alimentados exclusivamente pelo próprio cabo de vídeo, como alguns divisores de vídeo HDMI. Outra dica é não utilizar cascateamento de divisores, ou seja, um divisor conectado em outro divisor, pois isto tende a complicar a comunicação entre TV e player, podendo gerar erros na exibição da imagem.

Vibração

Outro dificultador da implantação de TV para ônibus é que o ambiente automotivo tem muita vibração. Equipamentos eletrônicos que possuem partes móveis, como ventoinhas (ou coolers), HDs (que nada mais são do que um disco que roda em alta velocidade para ser lido) ou conectores internos (como módulos de memória RAM), apresentam falhas quando expostos à vibração constante da operação. Por isso, sempre busque equipamentos que:

  • tenham placas “monolíticas”, ou seja, que possuem todos os componentes soldados diretamente na placa-mãe, sem uso de conectores
  • não possuam partes móveis, como coolers e HDs. O movimento destes componentes, associado à vibração, reduz drasticamente a vida útil do equipamento. Busque dispositivos que tenham dissipação de calor “fanless” (sem ventilador) e com armazenamento em “estado sólido” com o uso de SD Card ou SSDs.

Poeira

O ambiente automotivo está muito exposto à poeira por conta da grande circulação diária. O vento e os próprios passageiros carregam partículas que, ao longo do dia, se acumulam e podem gerar mau contato em conexões ou travar eventuais peças móveis. Por isso, é importante seguir as recomendações acima, de buscar equipamentos com placas monolíticas e sem partes móveis que podem ter seu funcionamento prejudicado pela poeira.

Temperatura

Um dos pontos mais críticos de uma TV para ônibus é em relação à temperatura. Isso porque, ao se buscar um equipamento “fanless”, como recomendado acima, o resfriamento do equipamento se torna um problema. Por isso, busque equipamentos que suportam altas temperaturas sem ajuda de ventilação mecânica.

Em projetos de TV para ônibus, os players geralmente ficam em compartimentos isolados, com pouca ventilação e próximos ao teto do veículo. Ao longo de um dia de sol forte, a temperatura nestes compartimentos pode beirar os 90°C, reduzindo consideravelmente a vida útil do player. Por isso, é fundamental que haja canais de troca de ar no compartimento dos equipamentos para evitar grandes elevações de temperatura.

Vandalismo

Como o fluxo de pessoas em ônibus urbanos é muito grande, é impossível evitar a entrada de indivíduos que possam ter comportamento destrutivo. Por isso, é fundamental que os equipamentos de TV para ônibus, principalmente as telas, sejam preparadas para suportar isto. Telas desenvolvidas para utilização de TV para ônibus geralmente possuem carenagem externa de aço e uma proteção de acrílico reforçado protegendo a tela LCD, além de uma estrutura resistente que a prende ao veículos. Como os players são menores, devem ficar escondidos em compartimentos fechados a chave (mas observando a questão da temperatura citada acima).

Vale lembrar que o vandalismo pode ser causado não só pelos passageiros, como também pelos próprios funcionários da empresa de transporte, o que vem se tornando cada vez mais comum. O motivo varia de represália aos chefes, até os funcionários acharem que estes equipamentos tecnológicos podem monitorar suas ações através de imagens. Por isso, antes de iniciar um projeto de TV para ônibus, sempre realize uma apresentação aos funcionários, comunicando e orientando sobre o funcionamento do equipamento.

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Sobre o autor

Eric Vazzoler

Engenheiro eletricista formado pela UFSC. Líder do departamento de desenvolvimento de Hardware e da produção eletrônica na Progic Tecnologia.

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